segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entrevista com Mike Mangini

09 de julho de 2011, por Metal'O Phil
Dois homens diferentes, duas opiniões diferentes, duas vibes diferentes. A saída de Mike Portnoy do Dream Theater gera mudanças. Se for uma mudança musical, vamos descobrir em poucos meses. Devido ao destaque que Mike tinha na banda – não é por acaso que a Dream Theater era considerada como "a banda de Portnoy" - haveria muitas conseqüências decorrentes de sua partida. Tentamos tomar o pulso da banda. Em primeiro lugar, com quem já estava nela e decidiu seguir em frente, John Petrucci, guitarrista e membro fundador. Depois, com aquele com quem o show vai continuar: o sortudo Mike Mangini.
O documentário que cobre as audições de vários bateristas nos fez sentar e tomar nota, mostrando Mike Mangini numa posição muito positiva, como um baterista capacitado e uma pessoa extremamente agradável e simpática. Tal representação não será contrariada por esta sincera entrevista. Mike é falante e aberto a contar suas histórias pessoais. Estávamos conversando com um homem alegre, aliviado após passar por tempos difíceis, e eternamente grato ao Dream Theater.
Apesar de estar totalmente consciente de seu valor e nível profissional, ele continua a ser extremamente humilde, ainda com certo temor de afirmar-se dentro da banda além de sua posição como baterista. Como se ele ainda não tivesse percebido o que estava acontecendo com ele, Mike Mangini continua a ser extremamente cauteloso ao falar sobre questões de longo prazo, embora seja inflexível sobre uma coisa: Mike Portnoy não vai voltar.
Radio Metal: Hey Mike. Então, você já conseguiu se acostumar a dizer às estações de rádio e jornalistas, "Ei, eu sou Mike Mangini do Dream Theater"?
Mike Mangini: (Repete) "Ei, eu sou Mike Mangini de Dream Theater". Eu posso dizê-lo agora e acreditar. Estou acostumado a dar um passo de cada vez. Já passou [a audição], e agora eu vou curtir a caminhada. Mas, ao mesmo tempo, o fato que ocorreu foi bem estranho, e eu simplesmente nem posso acreditar que a oportunidade surgiu.
RM: Demorou alguns meses entre os testes e no momento que o seu nome foi revelado ao público. Deve ter sido frustrante não ser capaz de dar a notícia para o mundo!
MM: Foi difícil não ser capaz de dizer isso para minha própria família. Minha família não sabia até 18 de abril, o que significa que eu tive que ficar em silêncio sobre isso de Novembro de 2010 até 18 de abril de 2011! Foi muito difícil.
RM: Você está brincando comigo? Ninguém sabia?
MM: Não! Não, não, não. Havia tão poucas pessoas que sabiam. A única razão pela qual algumas pessoas sabiam é porque elas estavam envolvidas de alguma forma. E foi isso. Era apenas uma questão de negócios ou algo assim. Eu só disse a algumas pessoas. Disse à minha mulher, mas eu não era capaz de dizer aos meus amigos e minha família.
RM: Eu simplesmente não posso acreditar!
MM: Eu nem acredito que mantive o segredo. Mas, ao mesmo tempo, eu queria dar uma impressão que eu era confiável. Então eu tive que ficar quieto, para mostrar que podia confiar em mim.
RM: Será que o fato de que você já havia tocado com James Labrie fez você se sentir mais à vontade durante a audição?
MM: Na verdade, eu não sei. E a razão para isso é porque a única vez que eu toquei foi quando Mike Portnoy me trouxe ao palco com seu kit de bateria duplo. Eu fui o primeiro baterista a me juntar ao Mike. Aconteceu quando eu estava no palco e foi muito estranho. Eu não sei mesmo qual a música que eles estavam tocando. Tudo o que sei foi Mike se virou para mim e disse: "Apenas siga-me". Então, eu simplesmente o segui e imitava o que ele tocava! Eu não sei se isso tinha a ver com eu estar à vontade, mas sei que o que me fez ficar à vontade foi que eu estava preparado.
RM: Está claro no Documentário que você era a pessoa que mais queria se juntar à banda. Você acha que isto jogou a seu favor, quando eles tiveram que escolher um baterista?
MM: Sim, isso jogou a meu favor – de alguma maneira, porque o meu coração e minha mente estavam cientes. Em outras palavras, eu estava muito alerta. Eu pareci bem preparado e qualificado. Pelo fato de eu querer estar na banda, eu aprendi [estudei] as partes de todos. Eu era muito respeitoso com todos. Querer estar na banda foi como a semente de uma árvore. E tudo que vem de uma boa semente é boa. Então a situação veio a meu favor porque tudo já estava mais fácil para mim. Poderia ser diferente se vinte bateristas quisessem estar na banda, porque eles precisavam de alguém que pudesse realmente tocar o melhor possível. Eu tive uma audição perfeita, não tive erros. Eu sou a única pessoa que tocou nesse nível, eu acho, e é por isso que eu fui escolhido.
RM: Quando um novo membro de uma banda é apresentado para os fãs, a reação às vezes pode ser negativa e até agressiva quando a substituição é de um membro muito amado. No entanto, de acordo com os fóruns, parece que você foi recebido com muito entusiasmo. Por que você acha que ocorreu isso?
MM: Acredito que seja porque me dou muito bem com os fãs. Eu acredito que eles pensam que eu sou um dos seus familiares. Tenho demonstrado coisas para fazê-los acreditar nisso a minha carreira inteira. Em outras palavras, quando a oportunidade de estar no Dream Theater veio até mim, eu não mudei a forma como eu estava. Eu sempre gostei de Mike, eu sempre fui respeitoso com ele, eu sempre gostei do Dream Theater, e sempre fui respeitoso com eles. Sempre fui um amante de bateria... e tenho me relacionado com todo mundo. Eu assino todos os autógrafos, falo com as pessoas. E venho fazendo isso há vinte anos. Então eu não sou alguém diferente, e porque os fãs do Dream Theater são muito bem informados, e porque eles parecem ser muito inteligentes, eu acredito que eles fizeram suas pesquisas. Eu não tenho que fingir, eles me conhecem já, porque eu demonstrei a minha vida inteira. Acho que é por isso que eles estão à vontade comigo.
RM: Toda banda que muda seus integrantes é assediada por fãs com uma obsessão para uma "reunião dos integrantes originais". Isto é o que aconteceu com o Kiss e Guns N 'Roses, e é bastante desrespeitoso para os novos membros. Como você vai lidar com isso quando, inevitavelmente, acontecer?
MM: Bem, sou fácil de lidar (risos). Vou deixar rolar e ser cooperativo. Esta é a minha natureza.
RM: Em uma entrevista recente você afirmou que antes de aparecer este teste, você lembrou-se de si mesmo deitado no chão se perguntando para onde sua vida estava indo. De onde veio esse desespero?
MM: Não tenho a certeza. Minha pergunta sobre onde as coisas iriam parar era porque eu estava lesionado. A outra coisa é que eu não tinha muito tempo para praticar [estudar], porque eu estava trabalhando muito, e eu não sabia que isso iria mudar. Além disso, eu tinha montado um novo kit de bateria que a maioria das bandas - na verdade, que ninguém iria me deixar usar. Então eu queria saber: "Puxa, como eu vou curar minhas pernas? Como vou arrumar tempo para praticar? E como vou usar este novo kit de bateria?” Eu não tinha ideia de qual seria a resposta.
RM: Você achou difícil não estar em uma banda estável?
MM: Sim, eu achei complicado não estar atuando em nenhuma banda de maneira estável. Eu queria fazer parte de uma. A diferença é que entre os anos de 2000 e 2005, não foi difícil, porque eu queria dar aulas e ficar em casa, a fim de construir uma família. Quando eu quis algo a mais, foi difícil.
RM: Não ter uma banda estável não é um pouco como não ter um relacionamento sério e duradouro com uma mulher?
MM: Sim, é! (risos) Às vezes é divertido estar em diferentes situações musicais, mas para mim... estou feliz de estar com uma banda e uma família.
RM: Como é possível que, com o seu nível, você não tinha encontrado uma banda antes? Você estava esperando a banda perfeita?
MM: Novamente, isso é porque eu queria formar uma família e eu queria ficar em casa. A questão é que eu tinha que estar preocupado com a renda. Então eu não podia simplesmente estar com qualquer banda. Em outras palavras, não seria fácil simplesmente criar uma banda que seria capaz de me sustentar. Eu era um professor da Berklee College, eu era um dos músicos que mais ministrava workshops, e eu também era capaz de conseguir trabalho. Sempre que eu quisesse trabalhar, eu poderia simplesmente mandar um e-mail para as pessoas ou fazer trabalho de estúdio. Para eu encontrar uma banda que fosse capaz de cobrir todos estes custos, era difícil. Um baterista tem que desistir ou seguir em frente para abrir oportunidades de trabalho! E isso não acontece frequentemente, por isso é difícil!
RM: Esta é a sua primeira experiência em uma banda estável. Isso é algo novo para você? Como você está lidando com isso?
MM: Sim, é realmente novo. Estou extremamente animado com isso. A razão de ela ser estável é porque John, James, John e Jordan são estáveis. São pessoas tremendas, eles são bem ‘pés no chão’ e trabalham duro! Essa é a razão, e não é sempre que se tem a oportunidade de encontrar uma banda composta de pessoas assim. E eles também são populares. É muito raro!
RM: Você não tomou parte na composição do álbum, porque já havia sido escrito. E quanto aos próximos?
MM: Oh, eu não sei. Quero abordar as coisas um passo de cada vez. O primeiro passo para mim era não estar envolvido na composição por duas razões. A primeira razão é que John, James, John e Jordan queriam ter a experiência de escrever juntos sem a participação de um baterista, pela primeira vez. Como um fã da banda, eu realmente queria ver isso, então eu concordei. Eu queria que eles fossem realmente felizes experimentando composições sem a opinião de um baterista. A outra razão foi porque eu tinha muito trabalho a fazer! Eu ainda tinha um emprego em tempo integral na Berklee, e eu tinha que preparar meu equipamento para a gravação. Levei três meses para deixar todo o meu equipamento pronto, porque eu não podia contar a ninguém! Eu precisava de um monte de coisas e eu tive que fazer todo o trabalho sozinho.
RM: Você já disse duas vezes nesta entrevista que você queria fazer as coisas passo a passo. Parece que você quer ter muito cuidado e manter-se afastado do entusiasmado exagerado. Você tem medo de alguma coisa?
MM: Uh, vamos ver... Eu sou muito grato e valorizo o que está acontecendo com essa banda. Sou grato só pela oportunidade de tocar bateria, tem sido um tempo tão longo para mim que eu posso sentir um bocado de alegria. Não tenho quaisquer aspirações agora para fazer mais do que isso. Eu só quero mergulhar na bateria. Estou mais preocupado em ser grato pelo que está acontecendo e me doar a isso.
RM: Você sabe se John Myung e James Labrie estão mais envolvidos neste álbum do que eram nos anteriores? Eles vão começar a escrever algumas letras de novo?
MM: John, John e James contribuem com as letras.
RM: E quem vai cantar as partes vocais de Mike Portnoy? Você?
MM: Eu não! (risos) Eu não sei o que eles querem fazer. Nós vamos descobrir nos ensaios.
RM: Eu sei que Jordan Rudess sabe cantar. Será que ele vai começar a cantar no Dream Theater?
MM: Eu não sei. Como eu disse, a banda vai tomar essas decisões nos ensaios. Estou muito focado no meu trabalho, que não será apenas aprender as músicas. Meu beat é muito forte e muito sólido, então eu estou trabalhando nos andamentos dos álbuns, o que será a minha principal preocupação quando eu for aos ensaios. Será tentar tocar nos andamentos das gravações, o que eles não têm trabalhado e querem fazer agora. Além disso, estou tendo trabalhando extra para essa turnê na aprendizagem das músicas, porque eu sei que vou estar sob avaliação e as pessoas estarão assistindo a tudo que faço. Por isso é um pouco mais trabalhoso para mim neste momento, e é por isso que eu não tenho uma preocupação com os vocais.
RM: Mike Portnoy e John Petrucci afirmaram que seria impossível para eles não tocarem juntos novamente no futuro, considerando os laços estreitos que os une. Você sente como se houvesse uma ameaça iminente que paira sobre você?
MM: Não, de maneira alguma. E a razão é por que eu gosto muito do Mike. Ele é um amigo. Agora tenho novos irmãos no Dream Theater, e quando você ama alguém, você os deixa fazer o que eles precisam fazer. Então eu não sinto que haja uma ameaça. Eu me sinto muito confortável eu estou na banda para o bem. Mike não vai voltar, e esse é o trato. Eu sou o baterista, e esse é o fim. Sinto-me confiante disso. Minha confiança vem do fato de que eu sei que vou continuar a trabalhar duro para eles quererem que eu esteja lá.

Fonte: www.radiometal.com