sexta-feira, 20 de maio de 2011

Entrevista com Serginho Herval

Entrevista dada ao baterista do Roupa Nova, Serginho Herval. Já faz um tempinho e o tom do entrevistador é bem tradicional (evangélico) e algumas repostas do Serginho não demonstram muita experiência, porém dá para conhecer um pouco dos melhores bateristas do Brasil. Esse post vai especialmente para o meu amigo Moisés Moreno, um dos maiores fãs do cara.Existe algum trabalho seu para a conversão do Ricardo Feghali, que produz muitos discos gospel?

Sim. Desde que me converti, há 10 anos, tenho buscado a união de todos. Mas Deus não me transpareceu nada ainda. Às vezes a gente força a barra, tentando ajudar, mas acaba atrapalhando. Eu procuro ter uma postura cristã. Quando Deus me resgatou, eu não tinha a idéia de sair por aí divulgando que sou evangélico. Não é a proposta do Roupa Nova nem a minha. Mas eu acredito que isso aconteça, num futuro que não sei quando será. O nosso tempo não é o tempo de Deus. Se Ele me resgatou, pode fazer isso com os outros também.
Como foi sua conversão?
Eu não era drogado, não era uma pessoa mundana, mas tinha minhas questões. Quando me converti, a primeira pergunta que fiz foi: “Quando saio do Roupa Nova”? Era meu primeiro amor, e a gente acaba se deslumbrando. Mas eu percebi que ser crente não é só empolgação. A palavra que sintetiza tudo é: postura. A gente tem que ser diferente. É dessa forma que vou mostrar que sou evangélico. Tenho visto vários programas de TV em que se fala de conversão, e tenho ouvido muita bobagem. Uma coisa que descobri é que Jesus não precisa de advogados para defendê-lo. Nenhum ser humano teria a capacidade de fazer o que Ele fez por nós na cruz. Eu não gostaria de ficar pendurado numa árvore, quanto mais pregado numa cruz. Eu acho que a cena da crucificação foi muito pior que a retratada por Mel Gibson. E olha que ele chocou muita gente.
É difícil viver no mercado de música secular sendo evangélico?

É difícil. Eu tenho tentado não me desviar. Às vezes a gente se deslumbra com um mundo que é de plástico. É preciso ter muito cuidado com a fama. Mas agora estou à espera do juízo final. Eu só tive o trabalho, que não foi trabalho nenhum, de aceitar a Jesus. Só o Senhor pode trabalhar na minha vida, não o Roupa Nova.
Você imagina que um dia sairá do grupo?
Até hoje não tive uma resposta sobre isso. Acho que Deus não quer que eu saia; meu lugar é no Roupa Nova. Nos lugares onde passo, tenho procurado pregar a Palavra, dar meu testemunho para algumas pessoas. Não vou a igrejas, mas é por falta de tempo. Tenho pedido a Deus que me dê mais tempo para isso. Eu não posso assumir o compromisso de ir a uma igreja, pois, em cima da hora, pode aparecer um show do Roupa Nova e eu não vou poder tocar. Não quero entrar em contenda com o grupo.
Como fica sua vida espiritual, em meio a tantos compromissos com o Roupa Nova?

Eu sou uma pessoa organizada, mas tenho certeza que Deus é muito mais. Ele tem operado. Tenho minha vida espiritual, muitas vezes estou orando ou jejuando em meio a uma turnê e o pessoal nem percebe. Tenho certeza que eu e o Cleberson somos pilares de sustentação dentro do Roupa Nova.


Como é freqüentar lugares ou conviver com pessoas tão diferentes de você?

Não é fácil. Deus fala, na Bíblia, para não sentarmos na roda dos escarnecedores. Eu acredito que estar nesse meio é uma coisa, participar é outra. Jesus fala “tendes bom ânimo, pois eu venci o mundo”. Eu estou neste mundo. E, se Deus ainda não me tirou do grupo, é porque Ele tem um propósito. Eu tenho que manter minha postura, não cair nem para a direita nem para a esquerda, e continuar buscando meu alvo. Sou contra pregar num lugar onde 90% das pessoas não irão me ouvir. Também não acredito em usar artifícios do mundo para falar de Deus. Não preciso usar pearcing e me tatuar para pregar. Jesus me alcançou da forma como eu sou; o Senhor sabia que eu precisava de um encontro com Ele, e eu tive. Não acredito em grupos de rock que se tatuam ou, nos shows, se jogam na platéia, como fazem as bandas do mundo. O que é isso, um novo Sex Pistols? Esse não é o Deus em que eu creio. Agora, se a pessoa já era assim antes de se converter, como o Rodolfo, que foi dos Raimundos, tudo bem. Quando for da vontade de Deus, ele vai tirar os brincos, as tatuagens. Essa é a minha humilde opinião.


Como foi para você gravar a música A Viagem, que foi tema de uma novela espírita da Globo?
A novela deu a conotação à música. Nós somos seis no Roupa Nova, e a maioria é melodista. Nós já tínhamos a música pronta, sem letra, para colocá-la no nosso disco Vida A Vida. Ela, inclusive, iria se chamar Barbra Straisend! Era apenas uma bela canção. Quando o Mariozinho Rocha, que cuida das trilhas das novelas globais, ouviu a música, gostou, e já tinha em mente qual seria a conotação da novela. Ele passou a música para o Aldir Blanc, um excelente letrista, que apenas cumpriu a parte dele, seguindo um storyboard. Quando soubemos que a música seria abertura da novela, ficamos muito felizes. Quem não quer ter uma música em novela? Mas, até aí, nós não sabíamos como ela era. Eu não era crente ainda, mas o Cleberson era. Ele falou com o pastor dele, dizendo o quanto a música era importante para nós naquele momento. E eu acredito que, até mesmo nessa situação, Deus triunfou. A música foi um grande sucesso, nos deu um bom retorno financeiro e até hoje é um dos pontos altos dos shows. Eu paguei o preço, pois até hoje tenho que dar explicações sobre isso. Mas vejo essa música com uma conotação amorosa. Eu a canto com essa intenção, contando a história de um cara que brigou com a mulher e voltou. Não acredito no sentido em que ela foi usada na novela.
Te incomodou vê-la sendo usado dessa forma na novela?
Já incomodou, mas hoje não incomoda mais. Eu tenho uma outra concepção; para mim é apenas uma linda canção de amor. Mas é claro que ela tem um duplo sentido muito grande. Só que esse “vai e volta” kardecista quem deu foi a novela. Se não fosse por isso, essa “viagem” poderia significar outra coisa. Deus sabe que eu não canto com a conotação da novela.
Por Marcos Paulo Bin
27/11/2004